Ou: manifesto pela libertação dos folículos capilares
esse post é Textão, melhor sentar.
Dizem por aí que todo mundo que se preze tem uma
mania incorrigível. Meu pai tem mania de comprar coisas velhas que ele nunca
vai usar, minha irmã tem mania de conversar até a outra pessoa dormir
(literalmente!), meu namorado ainda rói a unha, e eu, bom, eu corto o
cabelo.
Pouquíssimas coisas no mundo me fazem tão feliz
quanto sentar na cadeira do salão, olhar pro espelho e dizer pro meu
cabeleireiro: pode cortar tudo e não precisa ter dó não! O problema é que toda
vez que o prazer de cortar o cabelo vem, surge o desprazer conhecido como: a
opinião alheia.
Esse fenômeno astro(i)lógico pode ser identificado pelas frases: "Ah não! Por que você cortou?", "daquele jeito estava tão mais bonita!", "tá parecendo menino!", "não estraga seu cabelo assim!", "homem gosta de mulher de cabelo comprido, assim você parece sapatão", "que lindo! queria ter coragem também", "você não acha que já estava curto o suficiente?".
Esse fenômeno astro(i)lógico pode ser identificado pelas frases: "Ah não! Por que você cortou?", "daquele jeito estava tão mais bonita!", "tá parecendo menino!", "não estraga seu cabelo assim!", "homem gosta de mulher de cabelo comprido, assim você parece sapatão", "que lindo! queria ter coragem também", "você não acha que já estava curto o suficiente?".
E cresce tanto, mas tanto, que tem quem faça depilação toda semana! Absurdo não é?! Aaaah, mas é diferente né... É questão de higiene. É? Digo, é mesmo? Por que o cabelo, só por crescer em cima da cabeça, é tão melhor que os outros? Não só melhor, mas mais valorizado, sexy e merecedor de cuidados? Segredinho pra vocês: não entendo qual é a dessa segregação capilar. Uns a gente não pode deixar nascer, outros não pode tirar nem por uns dias que já é tudo "nooooosssaaa, maior burrice da sua vida, não vai arrumar um namorado nunca mais". Amigos, não consigo acompanhar!
O mais intrigante de toda essa problemática do cabelo
curto, além da insistência dos outros em palpitar a vida alheia, é que toda
mulher tem ou já teve uma vontade súbita, um desejo intermitente ou passageiro
de arrancar a juba fora. E, apesar desse desejo selvagem louco ensandecido,
a maioria simplesmente não tem coragem. Ninguém precisa ter coragem pra
cortar o cabelo, juro! não dói, não te deixa menos feminina nem exige a nota do
enem. Ou seja, é bom demais pra ser verdade. Deixe a coragem guardada
pro momento em que você precisar andar na corda bamba, porque, pra cortar o
cabelo basta ter vontade de se descobrir.
Ah, e não me venha com o papo de que cabelo curto
não fica bom em você, não se encaixa no seu perfil, etc, bla bla bla. Você
tem cabelo? Tem vontade de cortar? Corte! Sabe aquele lance,
antiiiigo, de que cada tipo de rosto tem um tipo certo de corte? Pois é a pior
mentira que inventaram desde o corpo ideal pra
curtir o verão e a culpa do estupro é
da vítima. O cabelo curto é como um filhote que adora brincar, ser livre e se
dá bem com quem estiver disposto a se dar bem com ele, não tem nada de
monstruoso ou assustador.
Aliás, miga, se você nasceu com o cabelo, não
esquece disso: ele combina com você! O encaixe é tão perfeito que vem na sua
fita dupla de nucleotídeos (DNA), quer dica melhor da mãe natureza? Vai ver o
seu problema é que você e seu conservadorismo capilar podem não estar
combinando com o espírito livre dos fios e ele não é obrigado (art. 5º, II CF/88)! Vamos, por favor, nos dar o direito de mutação garantido aos seres vivos e
permitir que nossos folículos desfrutem dele. Let it be! Deixa as
madeixas se encaixarem em você.
Acontece que cortar o cabelo é muito mais do que simplesmente tirar uns dedinhos no comprimento ou diminuir o tempo lavando: é vivenciar o significado de cortar um pouquinho daquilo que é tão forçado em nós diariamente sem que a gente sequer perceba. É se olhar no espelho e finalmente se reconhecer ali, naquela pessoinha, do jeito que ela é, porque ela quis! PORQUE ELA QUIS. Não porque o/a/x namorado/a/x, vó, vô, tia, mãe, pai, amiga, padrão social globalizado *cof cof*, quis.
Tudo bem se encontrar em quem você é com o corte de cabelo que você já tem, seja ele como for. Sim, é isso mesmo, tá permitido pela ordem do universo se achar mais bonita com cabelo longo. Sério, eu entendo isso. Inclusive, depois de três anos entre o corte fabuloso euzinha decidi que vou deixar a cabeleira crescer de novo. Entenderam a diferença? Não? Ok, eu explico com outras palavras: o importante é se conhecer e se amar.
Deixe seu cabelo do jeito que você quiser. Não do jeito que sua amiga tá usando ou do jeito que ele fica menos volumoso, mas do jeito que você se sente confortável e quando olha no espelho só consegue pensar: essa é a mulher que eu sou e que eu sempre quis ser.
Pode ser que tudo isso que eu falei seja lorota das
brabas e vocês estejam me achando uma maluca, mas na minha concepção de
mundo, onde o clichê reina, cortar o cabelo é mais do que um simples ato, é uma
forma de encarar a vida. Sempre que eu me vejo frente a um impasse que não me sinto
pronta pra resolver ou tenho um problema que não sei lidar eu corto o cabelo e, misteriosamente deixo parte do meu medo ir embora junto com as pontas.
É óbvio que já teve aquela vez horrorosa que não
deu muito certo e eu me arrependi e é mais óbvio ainda que nem tudo são flores e vantagens, mas cortar o cabelo me dá a chance de me libertar de
quem eu estava sendo e me permite ser de novo, afinal, o cabelo vai crescer e
eu também posso aprender a fazer a mesma coisa. Crescer frente às minhas
decisões, tomar as rédeas do jegue que vai levando minha vidinha nesse trote
atrapalhado.
Pra resumir o textão, qualquer mulher pode ter o cabelo curto sim!, é só questão de achar o corte em que ela se ache. Optar por um corte curto é lembrar pro mundo que você é um indivíduo com opinião, é assumir que você está se desprendendo um pouquinho mais e saindo da zona de conforto em que todos esperam que você permaneça. É se permitir a chance de se descobrir, de ser diferente de quem está acostumada; é se autoafirmar, testar suas opções, mudar seu padrão. É sentir a primeira brisa de liberdade.
E, se mesmo depois de tudo isso, você ainda acha que cortar o cabelo vai te deixar menos feminina, anota aí o recado da Simone (de Beavouir):
Diz o meu cabeleireiro que a mulher que tem opinião suficiente pra cortar o
cabelo consegue lidar com qualquer coisa que esse mundinho prepara. Eu, enquanto tento enfrentar as coisas do mundinho, é
claro, não poderia concordar mais, afinal, não é só cabelo!
[Se você gostou vale dar uma olhadinha em: É careca que eu me gosto mais e Cabelo? Curto!]
Pra resumir o textão, qualquer mulher pode ter o cabelo curto sim!, é só questão de achar o corte em que ela se ache. Optar por um corte curto é lembrar pro mundo que você é um indivíduo com opinião, é assumir que você está se desprendendo um pouquinho mais e saindo da zona de conforto em que todos esperam que você permaneça. É se permitir a chance de se descobrir, de ser diferente de quem está acostumada; é se autoafirmar, testar suas opções, mudar seu padrão. É sentir a primeira brisa de liberdade.
E, se mesmo depois de tudo isso, você ainda acha que cortar o cabelo vai te deixar menos feminina, anota aí o recado da Simone (de Beavouir):
"Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade."
[Se você gostou vale dar uma olhadinha em: É careca que eu me gosto mais e Cabelo? Curto!]