16 janeiro 2016

Como aumentar um coração


O dia em que tudo mudou foi uma segunda feira do fim de setembro de 2013. Dois mil e treze, também conhecido como o pior ano da minha vida: resultado de uma sequência deplorável de maus usos do livre arbítrio, diga-se de passagem... Mas, apesar do quanto eu fale e resmungue, 2013 será sempre o ano maravilhoso que trouxe a melhor coisa pra minha vida: a Maria Vitória.

Imagine só: uma família formada, os três filhos  já crescidos, os pais vendo um indício de menos preocupações, corte de gastos e, de repente, eis que no meio do caminho surge um par de olhinhos sofridos implorando por um pouquinho de cuidado. Não tem jeito... Onde comem cinco, comem seis. Foi assim que naquela segunda feira de manhã, em decisão unânime banhada a lágrimas, nós decidimos adotar.

E então lá estávamos nós, com uma menina gordinha do cabelo cacheado, cheia de medos, traumas e com um futuro todinho pela frente. É inevitável! Você olha nos olhos daquela criaturinha que precisa tanto de amor e dá aquele quentinho dentro do peito. Você sente seus músculos distendendo e esticando pra caber mais uma pessoa lá dentro. E cabem milhares!

Num dia tudo em ordem; no outro fraldas, banheiras, mamadeiras, telas nas janelas, musicas infantis, pediatras e brinquedos. E não sejamos hipócritas, choro, desespero, choque, medo, raiva, pânico... No meio da cama dormia os quase 80cm mais aterrorizantes do mundo e cada vez que eu olhava pra ela eu sentia que precisava fingir não estar intimidada, porque eu precisava segurar aquele mini ser humano nos braços e protegê-lo de todos os males. Talvez vocês ainda não tenham percebido, mas viver é  tão perigoso!

É claro que não foi fácil. Não tem sido fácil! Você já parou pra pensar no significado de educar uma criança? Transformá-la num ser humano bom? Não é como se meia dúzia de palavras e uma porção de beijinhos e gritos resolvesse. Mamãe e Papai que já tinham feito essa viagem três vezes se veem constantemente obrigados a rever os conceitos, porque acontece que uma criança não é um livro em branco, ela vem programada pra desenvolver o mundo do jeitinho dela, ter experiências, tirar conclusões, desenvolver e amadurecer no seu próprio tempo. 

Tem dias que eu vivo esquecendo que estou lidando com uma criança - que também é uma pessoa! cheia de opinião, defeitos e características "incorrigíveis", não uma mera reprodução de tudo que eu falo e mando e desejo. Acredite ou não, apesar de óbvio, não é exatamente fácil aceitar, muito menos dosar a tirania. Nos apegamos tanto às ideias e planos que criamos que passamos a acreditar que, para o próprio bem dela, recompensa das nossas vaidades e acalento dos medos, é melhor que desde sempre ela só aceite tudo, como um computador que você digita as instruções e ele segue.

Mas lembra do quentinho no peito? Ele continua lá, mesmo depois, quando ela desobedece e cai, quando apronta a arte do século, quando faz gracinha pra você esquecer o motivo da bronca, quando dá birra e se joga no chão do supermercado... O objetivo é cuidar bem, educar e proteger, e a gente até tenta, mas infelizmente não dá pra forçar o aprendizado ou exterminar todos os males do mundo. E é por isso que a gente aprende a rezar.

Ganhar uma irmã aos 18 anos me fez olhar diferente pra vida, o universo e tudo mais. Eu definitivamente sou mais chorona e medrosa, mas hoje eu vejo que temer tanto por alguém faz a gente enxergar além do próprio umbigo. Quando eu sinto todo esse peso, essa responsabilidade, eu acho que entendo melhor meus pais. Se como irmã eu já me sinto assim, imagina eles! Afinal, apesar da Maria ser um (mini)ser humano, não somos todos?!

Na ocasião de sua chegada Maria Fofórinha tinha 8 meses de idade, nenhum dente e nenhum sorriso. Hoje, dia 16/01/2016 ela está completando 3 anos, muito teimosa, faladeira e dona de um "zuliana" que derrete meu coração e definitivamente me dá nos nervos.

What can you ever really know of other people’s souls – of their temptations, their opportunities, their struggles? One soul in the whole creation you do know: and it is the only one whose fate is placed in your hands.
— C S Lewis

2 comentários:

  1. Lágrimas vieram aos olhos ao ler esse texto maravilhoso. Definitivamente essa pequenina está na família certa e vai crescer com muito amor e alegria ao seu redor <3

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  2. Por que?... Por que me fazer chorar, Ju?.... "Afinal, apesar da Maria ser um (mini)ser humano, não somos todos?!", essa frase foi tudo. Parabéns não apenas pelo texto maravilhoso, mas por ser tudo que você é pra Maria Vitória.

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